
No universo paralímpico, o tiro esportivo se revela como uma das mais exigentes expressões de concentração, autocontrole e resiliência.
Cada disparo é carregado de disciplina, técnica e histórias de superação que desafiam os limites do corpo e da mente.
A modalidade exige muito mais do que pontaria — é um exercício contínuo de domínio emocional, estratégia e adaptação.
Da estreia ao reconhecimento global
A modalidade entrou oficialmente nos Jogos Paralímpicos em 1976, em Toronto, restrita a participantes do gênero masculino. Quatro anos depois, as mulheres conquistaram espaço, marcando o início de uma evolução que se mantém até hoje.
Ao longo dos anos, categorias foram redesenhadas, regras aprimoradas e formatos modernizados. Atualmente, o tiro esportivo paralímpico segue padrões internacionais, com adaptações funcionais que garantem equidade e competição em alto nível.
Além de provas individuais, há disputas mistas e categorias separadas conforme a necessidade de apoio para a arma. Tudo é cuidadosamente estruturado para que a limitação física não se torne uma barreira à performance esportiva.
A retomada brasileira e seus protagonistas
Embora o Brasil tenha participado da estreia em 1976, só voltou à cena em 2008, com o atleta Carlos Henrique Procopiak Garletti.
A guinada no desempenho veio após 2002, quando o Comitê Paralímpico Brasileiro passou a investir com mais foco em estrutura, formação e suporte técnico. Desde então, o país avançou consistentemente na modalidade.
O marco histórico foi registrado em Paris, em 2024, com a medalha de prata de Alexandre Galgani — a primeira do Brasil no tiro esportivo paralímpico.
Alexandre Galgani: talento moldado pela adversidade
Nascido em São Paulo, Galgani teve sua trajetória redefinida aos 18 anos, após uma lesão na coluna. Ao iniciar o processo de reabilitação, encontrou no esporte um novo sentido de vida. Competindo na classe SH2, voltada a atiradores que precisam de suporte para a arma, Galgani superou limitações severas de mobilidade nas mãos para atingir excelência internacional.
Na prova R5 (carabina de ar 10 metros, deitado misto), conquistou a prata com 254,2 pontos — atrás apenas do francês Tanguy de la Forest, e à frente da japonesa Mika Mizuta. A conquista foi resultado de anos de dedicação silenciosa, técnica refinada e mentalidade inabalável.
Como funcionam as provas paralímpicas
O tiro esportivo paralímpico é regido pelas normas da ISSF (Federação Internacional de Tiro Esportivo), com adaptações determinadas pelo Comitê Paralímpico Internacional.
As provas utilizam pistolas e carabinas de ar comprimido, com distâncias de 10, 25 e 50 metros.
Os atletas competem em posições variadas: sentados, de pé ou deitados, conforme sua classificação funcional.
As principais divisões são:
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SH1: atletas que conseguem sustentar a arma sem apoio.
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SH2: competidores que utilizam suporte, geralmente por limitações nos membros superiores.
A padronização dos equipamentos e posturas garante que o foco esteja na habilidade esportiva, não na condição física.
Um novo horizonte para o Brasil paralímpico
A loja do Seals Clube e Escola de Tiro, de São Paulo (SP), aponta que a medalha inédita em Paris representou mais que um feito individual: foi o reflexo de um projeto que amadureceu, da valorização da inclusão no esporte e da formação de base sólida.
O Brasil mostrou que pode alcançar o topo com planejamento, incentivo e talentos que fazem da superação uma prática cotidiana.
A expectativa para os próximos ciclos paralímpicos é de crescimento, visibilidade e conquistas ainda maiores — com novos nomes, mais apoio institucional e uma cultura esportiva cada vez mais inclusiva.
Para saber mais sobre tiro esportivo nas Paralimpíadas, acesse:
https://cpb.org.br/modalidades/tiro-esportivo/
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